• 11 Legendas cerâmicas - 7
    Apr 16 2024
    Chawan (茶碗), "onde o chá se harmoniza", é a cuia – o objeto doméstico mais ancestral de todos, que reproduz as conchas das mãos. Na cultura japonesa, ela é sagrada, pois é onde o alimento é preparado, servido e oferecido. Sua produção está envolta por tradições míticas, como a de ter que fazer mil peças para chegar a uma perfeita, e o estágio de evolução espiritual do artesão é avaliado pela suavidade da passagem da parede do fundo da tigela para as laterais – que equivale às dificuldades da passagem da terra para o céu.
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  • 10 Legendas cerâmicas - 6
    Apr 16 2024
    Pode-se dizer que os ceramistas aqui apresentados são, ao mesmo tempo, artistas, cientistas e filósofos: criam formas em linguagem material própria, em desafio, embate e dança com a argila; e pesquisam soluções técnicas com afinco ao longo de décadas, para que possam expressar-se da melhor maneira. Entre o cultivo da paciência e a tolerância à frustração, observam os fenômenos que acontecem durante o processo de interação de si com o barro e deste com o fogo; e modelam teorias sobre o cosmos, tecem sua identidade em argila. Os artistas mergulham com seu trabalho na ancestralidade da terra e da vida humana e são generosos ao dividirem suas criações com o mundo, provocando-nos.
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  • 09 Legendas cerâmicas - 5
    Apr 16 2024
    "Wabi-sabi" (侘寂) é uma filosofia-estética atrelada ao xintoísmo e ao zen-budismo que valoriza a simplicidade, os processos naturais e a passagem do tempo. É um modo de vida segundo o qual a beleza reside no incompleto, no imperfeito e no impermanente. Como prática poética, "wabi-sabi" traduz-se na rusticidade dos materiais sem acabamento, das marcas das intempéries e da passagem do tempo, na assimetria e nos rastros que revelam os processos pelos quais passou um objeto. As obras aqui expostas dialogam diretamente com tal filosofia, como podemos observar nas impressões das mãos sobre a argila, nas marcas do fogo, nas cicatrizes do tempo e na irregularidade das superfícies.
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  • 08 Legendas cerâmicas - 4
    Apr 16 2024
    "Ma" (間) é uma palavra de difícil tradução, e associa-se a um conceito importante, manifesto nas artes japonesas: o intervalo espaço-temporal entre gestos, eventos, estados e coisas. É o vazio e o silêncio nos quais reside a potência do que se segue. "Ma" é o lugar da impermanência, travessia e transmutação, do qual germina o futuro, o vir a ser. A experiência de transitoriedade e suspensão é descrita em muitos relatos dos imigrantes japoneses e de seus descendentes, tal qual a condição de espera e de metamorfose, ou seja, "ma" está também no trabalho do ceramista e em temas como sementes, brotos, casulos, conchas e passagens.
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  • 07 Legendas cerâmicas - 3
    Apr 16 2024
    Noborigama (登り窯), "fogo em escalada", é o nome dado aos fornos milenares originários do extremo oriente. Eles se constituem de várias câmaras arredondadas construídas em patamares ascendentes com tijolos refratários e alimentados por lenha; demoram muitos meses para serem preenchidos com objetos e a queima leva entre 26 e 40 horas, exigindo do ceramista trabalho e atenção ininterruptos. A abertura do forno é sempre um grande evento e o efeito do fogo e das cinzas vegetais são aspectos de apreciação. Na arte cerâmica, consideram-se como "alta temperatura" os valores entre 1.200°C e 1.400°C, quando as moléculas da argila sofrem sinterização, isto é, quando se fundem de forma que os poros se fechem e as peças ganhem resistência mecânica.
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  • 06 Legendas cerâmicas - 2
    Apr 16 2024
    A partir da segunda onda migratória – iniciada pela participação do Japão na Segunda Guerra Mundial em 1942 e suspensa em 1952 pelo Governo Getúlio Vargas – e da terceira, oficializada em 1963, a cerâmica japonesa chega ao país com técnicos e artistas de vanguarda que modelam o solo brasileiro com linguagem própria. A cerâmica de alta temperatura queimada a lenha passa a ser realizada aqui na década de 1960 com a precursora Shoko Suzuki em Cotia e, na década seguinte, com os pioneiros do núcleo ceramista de Cunha e Akinori Nakatani em Mogi das Cruzes, com a construção dos primeiros fornos Noborigama (登り窯). Aos poucos, a cerâmica de alta temperatura japonesa começa a chegar às casas, ao mercado de arte, às escolas técnicas e ao trabalho de novos artistas e designers descendentes e não-descendentes de japoneses.
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  • 05 Legendas cerâmicas - 1
    Apr 16 2024
    "Yakimono" (焼き物), "objeto queimado", é parte fundamental do patrimônio cultural japonês, que tem sua peça mais antiga datada de 14.200 a.C. É dito no Japão que a cerâmica está presente na vida do ser humano desde que ele aprendeu a manejar o fogo e observou os pedaços de barro duro que ficavam quando as fogueiras se extinguiam. Enraizada na cultura local, a cerâmica é vista com respeito e admiração tanto por seu processo de confecção quanto pelo seu uso em rituais, festas e em diversos ambientes domésticos. Como utilitário, entende-se que está a serviço da vida e, portanto, é vida também. Há 116 anos – em 1908 – a cerâmica chega ao Brasil na bagagem dos primeiros imigrantes japoneses: ela é guardiã de memórias e costumes da terra natal.
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  • 04 Curatorial - Chen Kong Fang
    Apr 16 2024
    CHEN KONG FANG - O REFÚGIOChen Kong Fang chegou ao Brasil em 1951 com uma pintura na bagagem que guardaria consigo até o final de sua vida. Intitulada “O refúgio” e datada de 1949, consiste em um retrato de seu pai e sua mãe em uma cena com certo teor dramático. A imagem mobiliza o tema do desterro, com lastro iconográfico significativo na pintura chinesa, marcada pelas guerras que assolaram o país no raiar do século XX. Seu pai, Han Cheng-Fong, envolvera-se com a Revolução de Xinhai, que destituiu a Dinastia Qing em 1911 para proclamar a República da China, e faleceu em 1943, próximo ao final do período da ocupação japonesa e antes da partida do filho para o continente sul-americano em decorrência da tomada do poder no país pelo Partido Comunista. Chen Kong Fang - O refúgio se debruça sobre a carreira e a obra desse artista que construiu sua morada no Brasil, desenvolvendo a sua prática pictórica no tecido artístico paulistano por cerca de cinco décadas. A exposição, primeira retrospectiva do artista em uma instituição brasileira, reúne um conjunto de mais de cem obras, entre pinturas a óleo e sumi-ê produzidas entre o final dos anos 1940 e o início da última década. Ao invés de um partido cronológico organizado em fases sucessivas, a mostra enfatiza como o artista, que concebia a pintura como um caminho, fez de seu labor uma lida constante com gêneros pictóricos consolidados. Tomando partido da reabertura experimental pelas vanguardas modernas, imprimiu sua dicção própria nas ideias de retrato, paisagem e natureza morta.Fang produziu um extenso corpo de trabalhos, que nunca deixou de incluir, ainda, o sumi-ê. Por meio da fricção com as convenções de enquadramento pictórico, suas obras reverberam imagens que articulam diferentes escalas do olhar, assim como visões que suspendem a verossimilhança das cenas, abrindo-se ao inesperado e ao inominável. O conjunto reunido nesta exposição evidencia o modo como seu interesse pela assimetria, o equilíbrio entre tensões conflitantes e a atmosfera combinou-se à construção de um vocabulário visual singular, capaz de assimilar contribuições de tradições estéticas múltiplas.Paulo Miyada e Yudi RafaelFEIÇÕESOs raros retratos pintados por Fang podem ser vistos como casos em que ele aborda, por um lado, um campo familiar que inclui a si mesmo, seus familiares e conterrâneos e, por outro, registra o encontro com a alteridade ao emigrar para o Brasil. Em todos os casos, o artista se vê desafiado a conter sua abordagem expressiva e inconstante das massas de tinta e do desenho para acomodar a possibilidade do reconhecimento das feições que escolhe retratar. CASARIOSEmbora tenha chegado a São Paulo no começo da década de 1950, época de crescimento e modernização da cidade, Fang dedicou seu olhar para a paisagem urbana localizada nas margens e hiatos da pulsão industrial alardeada pela elite econômica. Casebres, barracos, ruas de terra e espaços vazios comparecem no casario que o artista descreve, seja em alinhavos esquemáticos de conjuntos, seja no recorte de construções específicas. Pelo avesso, essas também são cenas do projeto desenvolvimentista, visto em contraplano.COISASO mais numeroso grupo de obras de Fang é composto de variações em torno do gênero da natureza morta. Seus arranjos de objetos sobre mesas são repletos de pontos de contato com a tradição da pintura moderna, com acenos para artistas tão diversos quanto Cézanne, Picasso e Morandi. Na dicção de Fang, as referências se recombinam em uma espacialidade planificada, com uma perspectiva tão achatada que os suportes horizontais quase coincidem com o plano vertical da tela. Dessa forma, os objetos representados perdem seu peso, existem como coisas com textura e cor em suspensão.FISSURASÉ notável como diversos dos ambientes e espaços representados por Fang são pontuados por rasgos, janelas, cantos e aberturas que conectam o interior da arquitetura com a escala da paisagem de fora. Essas fissuras funcionam também como inserção de uma imagem dentro de outra, de modo que na obra desse artista quaisquer elementos em cena podem se tornar um potencial foco de atenção, independentemente de sua distância presumida. A força evocativa de algumas das paisagens entrevistas, além disso, suscita uma reorganização da hierarquia da cena, tornando o espaço interno uma espécie de plano de enquadramento da vista exterior.ATMOSFERASQuando se lançava a pintar paisagens não urbanas, Fang se valia de grandes superfícies enfatizadas pela cor para indicar a vastidão e pujança de elementos naturais como a água e a terra. Ele também se utilizava de recursos de enquadramento e composição da tradição da pintura de paisagem chinesa para sugerir a relação complementar dinâmica desses elementos. Mais do que descrever lugares, propõe uma pintura que se volta para a sintetização de atmosferas, que se reflete na ...
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